Eu sou fã de Friends! Fã de carteirinha mesmo, de ter todos os episódios e assistir as 10 temporadas mais de duas vezes. Como Chaves e Chapolin, sei o que acontecerá no episódio inteiro, mas mesmo assim me mato de rir! Friends é uma Sitcom americana sobre seis amigos em Nova York. É uma série sobre pessoas e relacionamentos, na qual se mostra como os amigos aprendem e crescem enquanto a terceira década da vida deles se aproxima.
Ah, como é divertido assistir Friends. O seriado torna-se mais rico ainda quando traz à tona conceitos complexos, explicados na prática e de forma cômica. A ideia é escrever mais posts sobre o seriado Friends - já que vi muita coisa interessante acontecer naqueles dois apartamentos de Greenwich Village e no Central Perk. Porém, hoje vamos falar sobre uma situação específica que ocorreu no quarto episódio da quinta temporada: “The One Where Phoebe Hates PBS”.
Nesse episódio, Joey acredita que foi contratado como apresentador do famoso PBS, uma espécie de Teleton americano. Ele então diz que faria uma boa ação para o PBS e teria um pouco de exposição na TV. “Essa é matemática que o Joey gosta de fazer”, conclui. Mas na verdade ele foi convocado para ser um dos muitos voluntários que atende ligações e registram as doações dos telespectadores. Phoebe diz que odeia o PBS, pois se lembra dos seus dias difíceis e miseráveis da infância. Além disso, ela diz que aquela atitude do Joey era um egoísmo disfarçado como uma boa ação, pois ele não queria ajudar as pessoas, mas sim aparecer na TV. Quando ele retruca que não há boa ação verdadeiramente altruísta, ela promete provar que ele estava errado como podemos ver no vídeo abaixo.
Em uma palestra que ministrei em Natal, apresentei essas cenas a fim de discutir a existência de altruísmo genuíno na nossa espécie. Será que Joey está certo? Desde Chales Darwin os estudiosos da evolução se batem em torno do altruísmo. Na verdade, esse é um conceito bastante complexo e que apresenta diferentes definições conforme o cientista de referência. Afinal, se a seleção natural beneficia o mais apto a sobreviver e reproduzir, não deveria haver motivo para a generosidade (que muitas vezes implica em custo ou risco de vida para quem pratica) na natureza.
É comum definirmos altruísmo como uma “ajuda ao próximo” ou então “fazer o bem sem olhar pra quem”, no entanto, os cientistas ampliam esse conceito. Por exemplo, Richard Dawkins, definiu altruísmo como “ato que tende a aumentar o bem estar de uma entidade semelhante à entidade que provoca o ato, com prejuízo de si mesma” Ainda define o bem estar como “probabilidade de sobrevivência”. Outro cientista, Robert Trivers, define um ato altruísta como aquele realizado por um organismo e beneficia outro indivíduo a um custo para o ator sendo que o curso e benefício são definidos em termos de sucesso reprodutivo. Já o biólogo Ernest Mayr faz uma definição mais simples e próxima: “sentimento de quem põe o interesse alheio acima do próprio”. Gosto bastante das primeiras duas definições que são, por sinal, semelhantes. Os custos e benefícios são postos na balança e a relação entre eles é que qualifica o ato como altruísta ou não.
Em Friends, Phoebe sempre informa ao Joey o custo de seus atos, ao mesmo tempo, que ela ouve argumentos que modifica essa percepção de custos para benefícios próprios – o que torna cômicas as cenas.
Nos anos 1970, a Biologia acreditou que tinha resolvido a questão: o altruísmo demonstrado pelos animais, sempre beneficiava parentes ou ainda havia uma expectativa de retorno imediato no estilo “uma mão lava a outra”. O altruísmo genuíno permanecia um bastião da humanidade. Nesses anos, os cientistas eram mais do time do Joey do que do da Phoebe.
Nos anos 80 o jogo mudou! Uma avalanche de evidências de altruísmo genuíno começou a surgir. O próprio biólogo Richard Dawkins chamou a doação de sangue de um caso de altruísmo genuíno, desinteressado e verdadeiro da espécie humana. Mais do que exemplos na nossa espécie, surgiram evidências entre outros animais como os chimpanzés. Os macacos parecem ajudar colegas da espécie e humanos espontaneamente e sem receber qualquer recompensa.
Um grupo de pesquisas do Instituto de Max Planck, liderados por Felix Warneken e Tomasello,realizou três experimentos criativos para demonstrar esse comportamento: no primeiro, chimpanzés e bebês viam um humano desconhecido ter um objeto roubado por outro humano e colocado atrás de uma grade. A reação dos macacos e dos bebês pareciam se apiedar do estranho ao vê-lo tentando pegar o objeto. No segundo experimento, barreiras eram colocadas para dificultar o acesso ao objeto, criando, assim, um “custo” para o ato generoso. Mesmo assim, a boa ação era praticada. No terceiro experimento, um macaco precisava abrir uma porta para que outro, sem nenhum parentesco, pudesse entrar numa jaula em busca de comida. Mesmo não ganhando nada, cerca de 80% dos animais ajudavam.
Gosto de utilizar o vídeo abaixo em minhas aulas e palestras também para mostrar que o ser humano não é o único animal altruísta, e mostrar que as raízes do altruísmo humano podem ser mais profundas do que imaginamos, chegando até o ancestral comum entre nós, humanos, e chimpanzés.
Muita coisa sobre o assunto estava publicada na época que Friends foi escrito. Ah, mas eu confesso que é difícil imaginar um final (não vou contá-lo) mais divertido para esse episódio. Alguém imagina?
Referências
Warneken & Tomasello (2006). Altruistic Helping in Human Infants and Young Chimpanzees, Science.
Muito original o texto. Adoro Friends e assisti diversas vezes esse episódio, mas nunca tinha parado para pensar em algo assim. Parabéns Tiago pela análise. Rosângela, Salvador - BA
Oi Rosângela! Obrigado. Há muitas coisas interessantes em Friends e em outros seriados também. Com o tempo, novos posts serão adicionados ao site. Obrigado pela visita e pelo comentário feito. Um beijo. Tiago
Oi Simone, A ideia é essa mesma, procurar nesses produtos de entretenimento oportunidades para aprender e se divertir, ou ainda, juntar o útil ao agradável, tem coisa melhor? =) bjos e obrigado pelo comentário!
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Tiago Eugênio, 26 anos. Um internetólogo de plantão! Ando sempre despenteado por aí, em busca de novos pixels e pessoas para dialogar. Faço o que o gosto (aliás, amo), aprendo e ensino em um profissão charmosa, sofisticada e necessária para qualquer sociedade. Sou professor =)