quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Sedução na Era do Gelo: homens acompanhados de crianças são mais atraentes




     Desenhos animados são produtos ricos, que não servem apenas para entreter uma criança ou aproximar no sofá e no chão da sala pais e filhos.
Os desenhos contam histórias e apresentam visões de mundo que merecem ser analisadas. Há vinte anos, a Disney alimentava uma atmosfera melodramática e investia praticamente toda sua genialidade para convencer o mundo que somente o amor entre um homem e uma mulher importava e devia ser celebrado. Trancava a pobre princesa em torres e masmorras e pronto! Era só assistir até o final para ver o que já sabíamos: o encontro inevitável entre os protagonistas da realeza – o famoso “happy end”. Ah! Ainda bem que esses roteiros se modificaram e hoje temos animações muito mais ricas, que não apresentam essa visão água com açúcar da vida.

  Um dos objetivos do blog é mostrar justamente essa mudança no roteiro dos desenhos animados. No último post, comentei sobre a série Friends. Agora, nesse, discutirei uma cena específica de um desenho animado. Qual desenho?  Era do Gelo, o primeiro longa lançado em 2002. 


   O filme se passa há 20 anos, quando nosso planeta estava em plena era do gelo. As primeiras cenas começam com o esquilo Scrat correndo atrás de sua noz e, em seguida, vários animais em uma migração. Daí, dois animais acabam sendo deixados para trás, sob o risco de morrerem congelados. Para quem não assistiu ainda a esse filme, vou deixar o trailer aqui embaixo para aguçar a curiosidade de vocês =)





    Além do esquilo atrapalhado, o longa conta ainda com Manfred, um mamute ranzinza e mal-humorado, Sid, uma divertida e tagarela preguiça, Diego, um tigre dente-de-sabre e um bebê humano. O filme conta a trajetória do grupo de animais e a missão de devolver o bebê ao grupo de humanos – que estão caminhando para um acampamento do outro lado da passagem glacial.



A Cena de Sid na Banheira com as fêmeas

    Nesse caminho há uma cena super interessante e que se transforma, a partir de agora, o foco desse texto. 

   
   Manfred e Diego acordam e não encontram o bebê. Na verdade, Sid, a preguiça tagarela raptou o criança e a levou para tomar um banho de banheiro com duas fêmeas. Como não podia ser diferente, as duas fêmeas mimam a criança; “mas ele é uma gracinha”, “olá fofinho, olá meu peladinho”. É muito engraçada a cena. Quando uma fêmea pergunta a Sid como ele havia conseguido o bebê, ele responde que ele estava sozinho por aí, que o bebê precisava dele e que sempre foi seu sonho ter um filhote. 
   Mais interessante do que o comportamento exibicionista da preguiça macho, é a reação da fêmea ao ouvir aquilo.  “Sério? Isso é tão atraente em um macho” – gravem isso. 

  O Sid, sabichão do jeito que é, ainda responde: “quem não quer ter uma família, não é mesmo?” Ah! Sid é um sedutor inato e profundo conhecedor da natureza humana, sobretudo a feminina. Mas seus galanteios são interrompidos pela preocupação de Manfred que retira a criança da banheira. Enquanto Sid implora pela devolução da criança, as fêmeas alfinetam sua beleza física, mas lembram que é muito difícil achar um cara que queira uma família e, para finalizar lembram que “todos os caras sensíveis foram comidos” – pausa para risos! A volta de Sid para a banheira, sem a criança, e o encontro dele com os rinocerontes rende mais risos ainda.


O Xaveco

    Mas o xaveco do Sid foi certeiro. Se abusar, conquistaria até a Paris Hilton. Afinal, segundo a própria, “There is nothing more attractive than seeing a dad spending quality time with his children." (Não há nada mais atraente do que um pai passar um tempo saudável com seus filhos). 
 
    Na verdade, existem diversos estudos que mostram que um homem acompanhado por uma criança (ou até mesmo por um pet) é percebido como mais atraente. Mas afinal, por que existe essa mudança de percepção, principalmente das fêmas?
  


  A Teoria da Seleção Sexual apresenta uma resposta interessante. Dentro dessa teoria, há diversas explicações e formas de analisar essa pergunta.
 
 Teoria dos Bons Genes 

  Por exemplo, a Teoria dos bons genes (good genes) diz que a escolha das fêmeas não se fica a dever a nenhuma preferência meramente estética, mas está relacionada com a avaliação da qualidade dos machos. É fácil imaginar como a atração física pode indicar bons genes. Um exemplo rápido sobre as aves. Um macho com penas bem vermelhas, que usam caroteno para ter tal cor. Só um macho bem saudável tem caroteno disponível para “desperdiçar” nas penas. Assim, quem escolher o macho mais vermelho terá filhos mais saudáveis e será favorecido pela seleção natural. 

 E os Humanos? 
 Não basta ser pai, tem que participar

   Masculinidade facial pode ser um marcador de boa saúde, também, porque a testosterona, que faz caretas olhar mais masculino, também suprime o sistema imunológico. Como resultado, apenas os machos mais saudáveis ​​pode " prejudicar " a si mesmos, produzindo altos níveis de testosterona.

 Mas não basta ser pai, tem que participar. E essa participação acontece, sobretudo, com o investimento no cuidado parental despendido pelo macho – outra elegante teoria proposta por Robert Trivers que caracteriza bem a natureza humana.

  Em um estudo publicado em 2008, os pesquisadores constataram que o investimento paternal humano é extremamente variável. Em algumas sociedades, os homens oferecem muito pouco cuidado parental. Removê-los completamente implica em pequenas mudanças na vida de seus filhos. Em outras sociedades, bons pais desempenham um papel crucial. Seu apoio econômico e emocional faz uma grande diferença. Além disso, em geral, homens, gostam de apoiar seus filhos. E, não surpreendentemente, o estudo aponta que homens que seguem os conselhos de Sid e gostam de crianças são mais atraentes para as mulheres. 

 Homens que gostam de Crianças

    Roney e colobadores (2006) aplicaram em um grupo de jovens, homens americanos (entre 18 – 30 anos) um teste de preferência visual. Pares de fotos foram apresentadas, uma representando uma criança, outra representando um adulto. Os homens foram convidados a indicar que imagem de cada par que preferiam. Os pesquisadores também medicam os níveis de testosterona dos homens. Em seguida, os pesquisadores fotografaram os rostos dos homens e apresentou as fotografias para um grupo de mulheres jovens (com idade entre 18-20). As mulheres foram convidadas a avaliar cada um por quatro características : “gosta de crianças”, “másculo”, “fisicamente atraente” e “amável”.



  Com base em estudos anteriores, os pesquisadores previram que as mulheres consideram que os homens com níveis mais elevados de testosterona , como mais másculos. Foi examente o que ocorreu.

  Mas ainda mais interessante , houve uma correlação significativa entre a percepção das mulheres sobre o homem como “gosta de crianças” e sua preferência visual pelas mulheres.

   E isso não é tudo . As mulheres também foram convidadas a avaliar a atratividade de cada homem como um parceiro romântico de curto prazo ( por exemplo, para um breve caso e como um parceiro romântico de longo prazo ( por exemplo, para um relacionamento sério como o casamento ). Os resultados confirmam a noção de que os bons pais são sexy. A afinidade do homem pelas crianças teve um efeito positivo sobre a sua atratividade, sobretudo quando a avaliação era para um parceiro romântico de longo prazo. Em outras palavras, gostar de crianças valoriza o homem enquanto marido potencial.

   Lembram da reação das fêmeas com Sid na banheira? Ela diz, ainda inclinada para ele, que achava muito atraente em um macho o desejo expresso dele ter um filhote.

  Ah! E ainda tem gente ainda que lê livros sobre arte da sedução, respondem testes de conquistas, personalidade e muitos outros daquelas revistas de bancas... Tem gente que gasta bastante dinheiro com isso, principalmente jovens e adolescentes! Tá ai uma dica, preste atenção mais em desenhos animados. O filme Carros da Pixar apresenta outros insights interessantes sobre o tema, mas isso fica como assunto para outro post.

Referências
Hewlett BS 2000. Culture, history and sex: Anthrpological perspectives on father involvement. Marriage and Family Review, 29, 324-340.

Kleiman DG and Malcolm JR. 1981. The evolution of male parental investment in mammals. In: DJ Gubernick and PH Klopfer (eds), Parental care in mammals, pp. 347-387. Plenum Press: New York.

Roney JR Hanon KN, Durante KM, and Maestripieri D. 2006. Reading mens’ faces: women’s mate attractiveness judgements track men’s testosterone and interest in infants. Proceedings of the Royal Society B 273: 2169-2175.

Sear R and Mace R. 2008. Who keeps children alive? A review of the effects of kin on child survival. Evolution and Human Behavior 29(1): 1-18.





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